No âmbito da temporada França-Brasil 2025, a cidade de Issy-les-Moulineaux acolhe uma exposição inédita do artista indígena Kadiwéu Frutuoso Rocha no “Temps des Cerises”. Um encontro excepcional com um criador cuja obra poderosa e silenciosa testemunha a identidade, a memória e a resistência de um povo.
Um artista comprometido com seu povo
Frutuoso Rocha, artista indígena do povo Kadiwéu, nasceu em 4 de novembro de 1950 e hoje, aos 75 anos, vive uma vida simples em sua aldeia, cercado pela família e pela cultura que inspira sua obra. Desde a infância, ele transforma memórias, histórias e tradições em desenhos, utilizando técnicas ancestrais como tinta de jenipapo e pincéis feitos de penas de pássaros recuperadas no solo. Seus grafismos não são apenas traços no papel, mas registros vivos da identidade Kadiwéu, uma forma de expressão que transcende a fala.
Na aldeia, Frutuoso é visto não apenas como artista, mas como guardião de saberes. Sua arte é admirada, sua presença valorizada. Mesmo sem usar palavras, ele comunica com clareza através de linhas firmes e composições carregadas de significado. Cada desenho é uma narrativa – às vezes sobre a vida cotidiana Kadiwéu, outras sobre a relação com a natureza ou os desafios da convivência com a sociedade. Sua sensibilidade capta tanto a força de sua cultura quanto os sonhos que ainda deseja realizar: viajar, ensinar e compartilhar seus grafismos além das fronteiras da aldeia, para que o mundo conheça a resistência e a beleza de seu povo.
A exposição e sua inauguração no Temps des Cerises
Na exposição em Issy-les-Moulineaux de 13 a 28 de setembro de 2025, com lançamento no sábado dia 13 de setembro às 17hs, o público poderá contemplar obras dos últimos anos, nas quais Frutuoso inovou ao incorporar cores vibrantes à sua prática artística, expandindo o tradicional preto-e-branco dos grafismos Kadiwéu sem perder a essência ancestral. Essa evolução técnica revela um artista em constante movimento, que dialoga com a contemporaneidade enquanto mantém suas raízes culturais.
Entre suas centenas de obras, destacam-se desenhos que traduzem vivências profundas. Alguns retratam cenas da vida coletiva Kadiwéu, como cerimônias e momentos de caça; outros revelam encontros com a natureza, representando animais, plantas e fenômenos que inspiram sua cosmovisão. Há ainda composições que dialogam com o mundo exterior, refletindo tanto a harmonia quanto as tensões dessa relação.
Cada obra é um convite a decifrar, através do grafismo, histórias que atravessam gerações. A exposição de Frutuoso Rocha não apenas celebra sua trajetória, mas também reforça a importância da arte indígena como ponte entre tradição e contemporaneidade. Seus desenhos são mais que imagens – são vozes silenciosas que ecoam a riqueza de um povo que, mesmo em meio a transformações, insiste em desenhar seu futuro com as cores da ancestralidade.